Higienização e eliminação da cadeia alimentar são as estratégias contra infestação
Foto: Reprodução/ Divulgação
Higienização e eliminação da cadeia alimentar são as estratégias contra infestação

O avanço dos acidentes com escorpiões em cidades brasileiras reacendeu o alerta para cuidados dentro de casa. Em Campinas, entre 1º de janeiro e 4 de novembro, foram contabilizados 826 casos — média de 2,68 ocorrências por dia — o maior índice desde 2007. As altas temperaturas e o aumento das chuvas no período que antecede o verão tendem a intensificar as picadas, reforçando a importância da higiene e da organização doméstica como principais formas de prevenção.

Ambientes escuros, úmidos, com acúmulo de objetos ou presença de entulho são os locais que mais atraem o animal, resistente e de hábitos noturnos.

De acordo com o médico-veterinário Francis Flosi, diretor-geral da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas, a rotina de limpeza continua sendo o método mais eficaz para evitar a presença do escorpião.

“A limpeza adequada do ambiente costuma ser suficiente para eliminar os escorpiões. Mesmo com desinsetização, se a casa não estiver higienizada, eles retornarão. É fundamental que a população mantenha seus espaços organizados”, afirma.

Prevenção é a medida mais eficiente

Para o especialista, não há produtos ambientais capazes de eliminar escorpiões de forma ampla. A ação química ocorre apenas quando há contato direto com o animal.

“A estrutura corporal dos escorpiões dificulta a ação de produtos químicos no ambiente. O efeito ocorre apenas no contato direto. Por isso, a higienização e a eliminação da cadeia alimentar são as estratégias mais eficientes”, explica Flosi.

Em imóveis onde os animais são avistados com frequência, os moradores podem solicitar vistoria gratuita pelo canal 156, com atendimento realizado por técnicos do Programa de Saúde Ambiental.

Sintomas variam e podem ser graves

As reações à picada vão de dor moderada no local até quadros severos, como sudorese, vômitos, náuseas, alterações de pressão arterial e risco de morte em crianças e idosos.

A espécie mais comum em áreas urbanas é a Tityus stigmurus. Já a mais perigosa, presente em diversas regiões do país, é a Tityus serrulatus, cuja picada exige atenção imediata e observação médica.

Predadores naturais ajudam no controle

Durante entrevista ao Portal iG Vinhedo, o médico-veterinário destacou que algumas espécies podem auxiliar no controle biológico dos escorpiões, especialmente em áreas mais abertas ou propriedades rurais. Entre os predadores naturais citados estão a galinha-d’angola e o ganso.

Hábito de ciscar

As galinhas, ao ciscarem o solo em busca de insetos e pequenos animais, acabam desenterrando escorpiões escondidos sob folhas, pedras ou entulhos.

Resistência ao veneno

Segundo Flosi, tanto galinhas quanto galinhas-d’angola apresentam resistência natural ao veneno dos escorpiões, o que impede que a picada cause danos graves.

Médico-veterinário Francis Flosi, diretor-geral da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas
FOTO: Arquivo Pessoal
Médico-veterinário Francis Flosi, diretor-geral da Faculdade de Medicina Veterinária Qualittas


O que acontece após a picada

Em alguns casos, as aves podem apresentar reações momentâneas — como pular ou balançar a cabeça —, mas a voracidade é maior que o desconforto. Elas continuam a capturar e ingerir os escorpiões mesmo após serem picadas.

Atendimento e uso do soro

A orientação é buscar atendimento o mais rápido possível, principalmente em pacientes vulneráveis. Em alguns casos, o Soro Anti-Aracnídeo Polivalente pode ser indicado.

Flosi destaca que o produto é seguro, mas deve ser aplicado apenas por profissionais de saúde.

“O soro antiescorpiônico é produzido a partir de anticorpos específicos que neutralizam o veneno do Tityus serrulatus. Ele é de uso hospitalar e só deve ser administrado por profissionais de saúde”, alerta.

Reações adversas são geralmente leves e surgem durante a infusão, como coceira, vermelhidão ou desconforto respiratório.

“Quando identificadas, a interrupção temporária da aplicação e o tratamento adequado controlam o quadro, permitindo que a soroterapia seja reiniciada com segurança até a dose recomendada”, completa.


Medidas essenciais de segurança

Para diminuir riscos e garantir um atendimento correto em caso de acidente, especialistas reforçam recomendações básicas:

- Não usar garrotes, torniquetes ou fazer incisões no local.
- Não aplicar amoníaco, substâncias caseiras ou produtos irritantes.
- Não ingerir bebidas alcoólicas ou substâncias tóxicas.
- Verificar roupas, toalhas e sapatos antes de usar.
- Vedar ralos, saídas de água e frestas.
- Utilizar luvas e calçados fechados ao manusear entulhos.
- Procurar atendimento médico imediatamente após a picada.

Com o avanço dos casos e a chegada do período mais quente do ano, autoridades e especialistas reforçam que pequenas mudanças na rotina doméstica podem reduzir drasticamente o risco de contato com o animal.

A combinação entre limpeza contínua, atenção diária e orientação técnica permanece como a estratégia mais segura para evitar acidentes.

    Comentários
    Clique aqui e deixe seu comentário!
    Mais Recentes