Auditório ficou cheio durante a cerimônia na manhã deste sábado,9, um ano após a tragédia aérea
Foto: Pedro H. Lopes
Auditório ficou cheio durante a cerimônia na manhã deste sábado,9, um ano após a tragédia aérea

Vinhedo reviveu, com emoção e homenagens, o trágico acidente aéreo do voo 2283 da Voepass, que em 9 de agosto de 2024 ceifou 62 vidas e chocou o país. O ato “Amores Além da Vida”, realizado na manhã deste sábado (9), marcou o primeiro ano da tragédia que atingiu o condomínio Jardim Recanto Florido, no município paulista.

A aeronave, que decolou de Cascavel (PR) com destino ao Aeroporto de Guarulhos (SP), desapareceu dos radares às 13h22 e caiu após 81 segundos, transformando Vinhedo em um cenário de dor e luto coletivo.

A cerimônia, organizada pela Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283, aconteceu no espaço de uma igreja, no bairro Mirante das Estrelas, e reuniu parentes, amigos, autoridades, voluntários e profissionais envolvidos no resgate e investigação.

Luto coletivo e união diante da tragédia

Adriana Ibba, mãe de Liz Ibba, de 3 anos, e vice-presidente da associação
Foto: Pedro H. Lopes
Adriana Ibba, mãe de Liz Ibba, de 3 anos, e vice-presidente da associação

Adriana Ibba, mãe de Liz Ibba, de 3 anos, e vice-presidente da associação, falou sobre o significado do ato: “É um momento de profunda conexão, reflexão e oração. No dia 9, as pessoas do voo 2283 acabaram interligando todas as nossas vidas. Estamos todos conectados: familiares, imprensa e instituições. É um momento de se abraçar, olhar nos olhos e viver mais um dia da dor que a gente sente há 365 dias”.

Ela destacou o apoio mútuo dos familiares na superação do luto: “A gente troca figurinha, chora junto. Um dia um está mais fraco, ajudamos; no outro sou eu que estou mais fraca. E assim vamos seguindo”.

Adriana também comentou sobre as investigações: “Estamos acompanhando no que é possível, apesar dos acessos restritos. Estamos no aguardo do relatório final do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que deve sair até outubro ou novembro, e, depois, a conclusão do inquérito criminal pela Polícia Federal de Campinas.”

O plantio simbólico de um ipê branco, realizado durante o evento, representa as 62 vidas perdidas. “Cada um tinha sua história, sua luz”, lembrou.

Dor e esperança nas palavras de uma viúva

Rosana Maria Ferreira, esposa do copiloto Humberto Alencar
Foto: Pedro H. Lopes
Rosana Maria Ferreira, esposa do copiloto Humberto Alencar

Rosana Maria Ferreira, esposa do copiloto Humberto Alencar, emocionou-se ao relembrar o momento e a coragem do marido: “Do hotel até aqui, vim de carro olhando para o céu, sabendo que ele passou por aqui, procurando um lugar para pousar. É agoniante”.

Segundo ela, Humberto “deu a vida para salvar outras vidas, abdicando de suas vontades pelo próximo. Trazer meu filho Bernardo aqui é necessário”. Rosana guarda objetos intactos do marido como símbolos de fé e proteção: “No céu não tem cruz; a cruz é para nós, para lembrarmos que vale a pena se dedicar a Deus, à família e ao trabalho”.

Ela acredita que os responsáveis pela queda serão identificados: “Não há outra justificativa para o acidente a não ser negligência”.

Justiça e responsabilização nas mãos da Polícia Federal

Advogado Luciano Katarinhuk
Foto: Pedro H. Lopes
Advogado Luciano Katarinhuk

O advogado Luciano Katarinhuk, assistente de acusação da associação, detalhou o andamento das investigações: “A Polícia Federal trabalha em cooperação com o Cenipa e não divulgará seu relatório sem o final do Cenipa. Desde o início buscamos responsabilização de quem agiu por omissão ou dolo. Foram falhas humanas e operacionais.”

Ele destacou a necessidade de apurar também a possível participação de servidores públicos ligados à fiscalização: “Primeiro apura-se a causa direta e depois as responsabilidades indiretas”.


Luciano reforçou que as famílias não querem vingança, mas justiça. “Queremos saber quantas pessoas sabiam que a aeronave não poderia voar e, ainda assim, permitiram, por questões econômicas, colocando vidas em risco. Não se pode culpar apenas os pilotos, que também eram vítimas. A PF tem conduzido o trabalho corretamente e esperamos que o relatório final identifique todos os culpados para punição e prevenção de novos acidentes”, afirmou.

Reconhecimento e homenagens aos envolvidos

Durante o evento, autoridades locais estiveram presentes, incluindo o prefeito de Vinhedo, Dr. Dario Pacheco, a vice-prefeita Cris Mazon, além dos secretários municipais Osmir Aparecido Cruz (Defesa Social e Mobilidade Urbana), Renato Romanetto (Cultura e Turismo), Milton Ricardo Ribolli (Saúde) e Maurício Barone (Diretor de Defesa Civil de Vinhedo).

Também estiveram presentes os vereadores Lucas Martins, Luiz Vieira, Nilton Braghetto e Paulinho Palmeira.

Placas de honra ao mérito foram entregues a equipes e voluntários que atuaram nas operações de resgate, entre eles Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Científica, Ministério Público, Defensoria Pública e Cenipa.

No entanto, a entrega da honraria ao diretor-presidente substituto da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Adriano Miranda, foi recebida com vaias por parte do público.

Entre as autoridades nacionais presentes também estiveram o delegado-chefe da Polícia Federal de Campinas, Edson Geraldo de Souza, e o diretor do Instituto Nacional de Criminalística, Carlos Palhares.

Ipê-Branco foi plantado em homenagem às 62 vítimas do Voo 2283
Foto: Nilton do Foto Nélson
Ipê-Branco foi plantado em homenagem às 62 vítimas do Voo 2283




Encerrando a programação, familiares seguiram em caminhada até o portal do Cristo Redentor, onde plantaram um ipê branco, gesto simbólico para representar a vida e a memória das 62 vítimas do voo 2283.

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