
Mesmo com os avanços da medicina, o infarto do miocárdio continua sendo a principal causa de morte no mundo. No Brasil, a situação é agravada pelas baixas temperaturas, pelo aumento das síndromes virais e pelo desconhecimento sobre os sintomas e os cuidados necessários. De acordo com o cardiologista intervencionista Silvio Gioppato, mestre em cardiologia pela UNIFESP e coordenador do Laboratório de Hemodinâmica da Unicamp, o frio exige atenção redobrada, principalmente de pessoas com fatores de risco.
Em entrevista ao Portal iG Vinhedo, ele detalha os desafios enfrentados por médicos e pacientes, além das soluções necessárias para reduzir os índices de mortalidade.
Qual a relação entre o frio e o aumento de infartos no Brasil?
O frio e as síndromes virais elevam em cerca de 30% a ocorrência de infartos. Isso acontece porque as baixas temperaturas provocam vasoconstrição, que pode desencadear eventos cardíacos, principalmente em pessoas com fatores de risco.
Quem está mais vulnerável ao infarto nessa época do ano?
Pessoas hipertensas, diabéticas, mulheres na menopausa, homens acima dos 40 anos, indivíduos com histórico familiar ou com antecedentes de infarto, cirurgia cardíaca ou angioplastia estão no grupo de maior risco.

O que essas pessoas devem fazer para se proteger?
A recomendação é se vacinar contra a gripe e evitar exposição ao frio. Quem pratica exercícios ao ar livre pode manter a atividade, desde que use roupas adequadas para as baixas temperaturas.
Por que o infarto mata tanto antes da chegada ao hospital?
Estima-se que entre 50% e 60% das mortes por infarto ocorrem antes do contato com um médico. Isso se deve, principalmente, ao atraso na busca por ajuda, seja por falta de acesso, desconhecimento ou desvalorização dos sintomas.
Qual é o tratamento mais eficaz para o infarto?
A terapia de reperfusão, que restabelece o fluxo sanguíneo na artéria coronária afetada. Ela pode ser feita com medicação trombolítica ou com angioplastia e implante de stent.
O tempo influencia no resultado do tratamento?
Sim. Quanto mais rápido for o início da reperfusão após os sintomas, menor o risco de morte ou sequelas. No Brasil, cerca de 40% dos infartados que chegam ao sistema de saúde não recebem o tratamento adequado — por falha na indicação ou por demora.
Há estudos que comprovam o impacto desse atraso?
Sim. Um estudo que conduzimos mostrou que a cada hora de atraso na reperfusão, o risco de morte aumenta 6,2%. Também há impacto financeiro: R$ 2.700 a mais para cada três horas de retardo e aumento de 45% nos custos quando a espera ultrapassa nove horas.
O que pode ser feito para mudar esse cenário?
São necessárias ações em três níveis: população, sistema de saúde e capacitação médica. No nível populacional, precisamos de campanhas contínuas sobre sintomas e busca precoce por atendimento.
E no sistema de saúde?
É fundamental criar e fortalecer redes específicas para atendimento ao infarto. Em países desenvolvidos, telemedicina e transporte ágil fazem a diferença na resposta rápida.
E quanto à capacitação médica?
Os profissionais devem ser treinados para reconhecer rapidamente o infarto e decidir pela melhor estratégia disponível, seja o uso de trombolíticos ou a transferência para uma sala de hemodinâmica.
Apesar de tantos avanços na cardiologia, o desafio ainda é grande?
Sim. Mesmo com tudo o que conquistamos nas últimas quatro décadas, ainda há muito a ser feito para oferecer um tratamento eficaz e universal para o infarto do miocárdio.