
A hipertensão arterial, popularmente conhecida como “ pressão alta ”, é uma condição crônica que afeta milhões de brasileiros e representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, renais e neurológicas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 600 milhões de pessoas em todo o mundo convivem com a doença, que causa cerca de 7,1 milhões de mortes anuais. A data de 17 de maio é reservada ao Dia Mundial da Hipertensão, voltado à conscientização e prevenção.
Em Vinhedo, o alerta é reforçado pelo Dr. João Marcos Gomes, coordenador da Cardiologia e diretor clínico da Santa Casa. Ele explica que a hipertensão ocorre quando a força exercida pelo sangue contra as paredes das artérias se mantém elevada por longos períodos, exigindo mais esforço do coração e favorecendo o comprometimento de órgãos vitais, como cérebro, rins e retina.
"É uma condição traiçoeira, pois nem sempre dá sinais. Por isso, é chamada de 'assassina silenciosa'. Muitas vezes o paciente só descobre após um evento grave, como um AVC ou infarto", explica o especialista.
Fatores de risco, diagnóstico e qualidade de vida
Além da ausência de sintomas em muitos casos, a hipertensão pode se manifestar por meio de dores de cabeça, tontura, visão turva e mal-estar, sintomas frequentemente negligenciados ou atribuídos ao estresse. Segundo o cardiologista, os fatores de risco se dividem em dois grupos: os não modificáveis e os modificáveis.
Entre os primeiros, destacam-se a herança genética, a idade avançada e a predisposição étnica. "Quem tem pais ou avós hipertensos deve fazer o controle regular da pressão a partir dos 35 anos. No Brasil, é difícil associar a doença a etnias por conta da miscigenação, mas sabemos que, na população negra, a pressão costuma ser mais difícil de controlar", afirma.

Já os fatores modificáveis são relacionados ao estilo de vida: sedentarismo, sobrepeso, obesidade, consumo excessivo de sal e alimentos industrializados, abuso de álcool, tabagismo e estresse. “Costumamos dizer que o sal, o açúcar e a cocaína são as três drogas brancas da cardiologia, pois têm efeito direto na mortalidade cardiovascular. Reduzi-los é essencial”, afirma o médico.
Ele recomenda uma dieta com alimentos naturais, rica em potássio — encontrado em vegetais verde-escuros e frutas como a banana — e com baixo teor de sódio, presente em alimentos prontos, embutidos, temperos artificiais e conservas.
A pressão ideal, segundo o especialista, é de 12 por 8 ou 12 por 9. Entretanto, os consensos médicos aceitam como limite superior uma pressão de até 14 por 9 para pacientes de baixo risco. “Nos casos de alto risco, como diabéticos, transplantados e pacientes com histórico de AVC, o controle deve ser mais rigoroso: a meta é ficar abaixo de 13 por 8”, pontua.
O tratamento inclui o uso contínuo de medicamentos — sob prescrição e acompanhamento médico —, mudanças na alimentação, abandono de vícios e prática de atividades físicas regulares.
“Costumo sugerir a regra do 5-5-5: caminhar cinco quilômetros, cinco vezes por semana, por pelo menos 50 minutos. Isso já impacta positivamente na saúde cardiovascular”, diz João Marcos. Ele destaca que exercícios de força, como a musculação, podem elevar a pressão temporariamente e devem ser orientados com cautela, especialmente em idosos, como prevenção à osteopenia e à osteoporose.
Outros agravantes incluem o uso de anticoncepcionais, esteroides anabolizantes e distúrbios do sono. “Pílulas mal indicadas e anabolizantes, inclusive os de uso veterinário, podem causar picos de pressão, infartos e AVCs precoces, principalmente em jovens de 18 a 30 anos.
Já a apneia do sono, muito comum em pessoas com obesidade abdominal que roncam e têm pausas na respiração, aumenta expressivamente o risco de derrame hemorrágico”, alerta o médico.
A hipertensão está diretamente ligada ao surgimento de doenças graves como infarto agudo do miocárdio, insuficiência renal crônica — que pode evoluir para necessidade de diálise ou transplante —, aneurismas, retinopatia hipertensiva e demência vascular.
“É o principal fator de risco para o acidente vascular cerebral, mais até do que o colesterol elevado ou o diabetes. E o pior: é silenciosa, mas devastadora quando negligenciada”, conclui João Marcos.
O diagnóstico precoce, por meio de aferições regulares, é uma ferramenta poderosa para evitar complicações. A recomendação é que todos os adultos façam a medição da pressão arterial ao menos uma vez por ano — e com maior frequência no caso de pessoas com fatores de risco.
O controle é possível e a longevidade com qualidade de vida é uma realidade para quem segue o tratamento corretamente.