Após quase uma década de estudos, o comportamento dos brasileiros em relação à fotoproteção continua preocupante. Esse é o principal alerta da mais recente edição da maior pesquisa nacional sobre o tema, conduzida por Lucas Portilho, farmacêutico, mestre pela Clínica Médica da Unicamp e diretor científico do Instituto de Cosmetologia e Ciências da Pele. Referência em proteção solar, Portilho coordena estágios internacionais na Europa e destaca que a conscientização sobre o tema ainda é insuficiente.
O estudo, que entrevistou 1.057 pessoas de 27 estados brasileiros, revelou que 66% dos brasileiros não aplicam filtro solar diariamente, embora o índice represente uma melhora em relação aos 73% registrados em 2023. "A pesquisa nos mostra que a conscientização sobre fotoproteção está longe de ser ideal. Muitos ainda consideram o filtro solar supérfluo, especialmente em cenários de crise econômica, onde 19,8% dos entrevistados justificaram o não uso pelo alto custo ou por não enxergarem necessidade", diz Portilho.
Uso inadequado ainda compromete proteção
Entre os hábitos analisados, um dado preocupante é que 35% dos entrevistados desconhecem a quantidade correta de filtro solar a ser aplicada no rosto, o que compromete a eficácia do produto. Apesar disso, o número representa uma melhora significativa em relação aos 49% de 2023.
A reaplicação do protetor solar também segue como um desafio: 65,6% dos brasileiros não reaplicam o produto ao longo do dia, embora o índice tenha caído em relação a 2023, quando era de 69%. Além disso, 22,2% não utilizam filtro solar em dias nublados, outra melhora em comparação aos 29% registrados na edição anterior do levantamento.
Impactos ambientais e radiação UVA
A pesquisa também trouxe dados sobre conscientização ambiental, revelando que 55,6% dos entrevistados desconhecem os impactos dos filtros solares nos ecossistemas marinhos. Apesar de alto, o índice reflete um avanço em relação aos 79% registrados no ano anterior.
Outro ponto de destaque é a proteção contra a radiação UVA, frequentemente negligenciada pelos consumidores. Apenas 39,7% dos entrevistados ignoram essa proteção ao comprar filtros solares, uma melhora em relação aos 50% de 2023. "A radiação UVA é mais insidiosa, pois penetra profundamente na pele e causa danos cumulativos, como o fotoenvelhecimento e a degradação do colágeno", alerta Portilho.
Câncer de pele: problema de saúde pública
O câncer de pele é o tipo mais frequente no Brasil, representando 33% de todos os diagnósticos oncológicos no país. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são registrados cerca de 185 mil novos casos por ano. "Os dados mostram que o uso inadequado do filtro solar não é apenas uma questão estética, mas um problema de saúde pública. Campanhas de conscientização mais amplas e efetivas são urgentes", reforça Portilho.
Principais hábitos e tendências revelados pela pesquisa
Reaplicação insuficiente: 65,6% não reaplicam o filtro solar durante o dia;
Dias nublados: 22,2% não usam protetor em dias sem sol;
FPS preferidos: FPS 30, 50 e 60 seguem como os mais utilizados, mas apenas 6,6% buscam orientação profissional;
Horários de exposição: 55,3% se expõem ao sol pela manhã, enquanto 32,8% preferem o período da tarde.
Portilho conclui que, apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios na conscientização sobre fotoproteção. Campanhas mais incisivas e acessíveis se mostram fundamentais para mudar esse cenário.