Fundada em 1º de maio de 1962, com apoio da Irmandade da Imaculada Conceição, a Santa Casa de Vinhedo recebeu a doação do terreno da Família Corazzari, além de donativos. As irmãs da Imaculada Conceição são pessoas da comunidade e concretizaram um sonho –oferecer o melhor atendimento de Saúde à população do município.
A Santa Casa de Vinhedo iniciou suas atividades com o fim específico de prestar serviços médico-hospitalares à população de Vinhedo e Região, através de uma instituição filantrópica, autossustentável e com grande valor para os munícipes.
O provedor da Santa Casa de Vinhedo, Julliano Gasparini concedeu uma entrevista exclusiva ao portal iG Vinhedo e falou sobre sua gestão à frente da Provedoria.
Julliano, você assumiu o comando da Santa Casa em junho de 2023. O que o motivou a aceitar esse desafio?
Eu sou a terceira na geração de voluntários da família de Afonso Gasparini na Santa Casa. Meu avô ajudou a construir a Santa Casa, meu pai foi tesoureiro na irmandade que é formada por famílias vinhedenses, fundadoras de Vinhedo na época até de Rocinha, juntamente com grandes nomes como o Monsenhor Favorino; o primeiro médico de Vinhedo, Dr. Dr. Abrahão Aun e outras personalidades que construíram a Santa Casa em um terreno doado pela família Corazzari.
O que me motivou foi dar sequência a essa participação altruísta e voluntária, é uma forma de compensação na vida, é gratificante ajudar as pessoas porque Deus é muito bom comigo, então a gente tem que contribuir com a comunidade da cidade onde nós temos raízes. Minha família tem quase 140 anos aqui. Motivação é que não falta, é um grande desafio e uma grande missão também.
A Santa Casa é conhecida por priorizar o atendimento humanizado. Quais iniciativas foram implementadas ou reforçadas durante a sua gestão para melhorar essa experiência para os pacientes?
A Santa Casa tem em sua essência o atendimento humanizado que acabou se perdendo com o tempo. Junto com a equipe de enfermagem, médica e depois com os demais colaboradores, realizamos um resgate e fizemos um grande treinamento em cima da tríade desta provedoria, comigo há outras pessoas, uma diretoria, então nós focamos no amor, no acolhimento e na humanização.
A pessoa tem de ter isso dentro do seu coração, ter essa bondade, essa vontade de acolher, não ser algo mecanizado. Trocamos 60% da equipe, da parte de enfermagem, até buscarmos o que nós prezamos, que é o atendimento seguido do lar, ou seja, a pessoa que vem aqui, ela já vem com dor, já vem com os problemas e a gente quer que aqui seja uma extensão do lar, então nós abrimos para que família venha junto, lógico que dentro das especificações de infecção hospitalar e tudo mais, mas a família acompanha o paciente, pode ficar com o paciente, abrimos mais horários para que as pessoas possam ficar com o ente querido, com amigo, etc. Isso aí, por mais que alguém não acredite, é quase 50% da cura.
A Santa Casa está realizando diversos projetos, como o "Adote um Quarto", a reforma da cozinha, a ampliação do Pronto-Socorro e a construção de um hospital infantil. Qual o impacto esperado dessas ações para a comunidade?
A Santa Casa ficou um bom tempo parada em investimento, nós da provedoria, em reunião com a diretoria, tomamos uma decisão: fazer 30 anos em 3. Para correr contra um tempo e fazer com que a Santa Casa seja referência na região, como foi na década de 90, buscamos resgatar a credibilidade da instituição, não foi fácil, tínhamos a fama de não ter bom médico, não ter especialidades, entre outras coisas. Fizemos esse resgate através de investimentos. O primeiro que acreditou nesse investimento foi o Dr. Dario Pacheco, prefeito de Vinhedo e a Câmara Municipal, todos os vereadores dessa Legislatura (18ª) acreditaram no projeto.
O município investiu no centro cirúrgico e em equipamentos, assim como os vereadores, através de emendas parlamentares, emendas impositivas, na sequência a sociedade acreditou e vieram as empresas, as associações, as comunidades, começamos a reformar quartos. Hoje nós temos um centro cirúrgico tão moderno quanto o hospital São Luís de Campinas, que é uma referência na RMC, e ao mesmo tempo começamos a reformar a estrutura pra atender esses pacientes do SUS e também dos convênios e particulares.
Nós centralizamos os medicamentos, eles são os mesmos para particular, convênio e SUS, os quartos são os mesmos, com a mesma estrutura, a única diferença é que no particular tem uma cama só, do restante, é o mesmo quarto, projetado no modelo de um quarto particular para atender convênio e SUS. Essa diferença que está trazendo mais pacientes, resgatou a nossa credibilidade com a sociedade.
Através de uma ideia do prefeito Dr. Dario Pacheco, já estamos pensando em fazer um anexo, para que possamos ampliar o hospital na Praça do Avião, um projeto muito grande e que vai depender também no Governo do Estado.
Qual a maior dificuldade encontrada na execução desses projetos e como vocês têm superado esses desafios?
A dificuldade que nós temos é financeira. Fizemos um levantamento tributário e verificamos ao se tratar de instituições hospitalares, a Santa Casa está em 6º lugar como maior dívida tributária no país. Contratamos advogados para que reduzissem os processos trabalhistas, os processos passivos, assim como na questão de tributação, se você não paga as dívidas tributárias, os juros são enormes, uma dívida que hoje vale R$ 10 milhões, em de 5 anos ela vai valer R$ 150, R$ 200 milhões.
Foi o que aconteceu, atualmente eu tenho uma dívida na ordem de R$ 190 milhões que estava chegando em 215 milhões de Reais. A gente entrou com medidas cautelares e processos para reduzir essa carga de juros, não sei como será no futuro, mas estamos tentando. Nesta nova provedoria, em 16 meses, conseguimos pagar todos os impostos em dia e ao mesmo tempo, reduzir o passivo.
A gestão atual tem recebido apoio significativo da prefeitura, de vereadores e deputados, além de empresários locais. A que você atribui esse engajamento?
A credibilidade do hospital perante a sociedade retornou, nós tivemos um aumento considerável, não só no atendimento SUS, mas principalmente nos convênios e particulares, que vieram a ser atendidos no ambulatório, procedimentos e cirurgias no hospital. Graças ao apoio de empresários, do governo municipal, através do doutor Dario Pacheco, da Câmara Municipal de Vinhedo, gostaria de denominar a todos que estão nos ajudando, através da presidência do Paulinho Palmeira, mas é importante citar o deputado Carlos Sampaio, ele foi significativo, ele doou a maior verba, o maior valor monetário para a Santa Casa. Se contarmos com a construção do hospital infantil e outras doações, o valor ultrapassa 8 milhões de Reais em 4 anos. Foi a maior verba já destinada por um deputado federal à Santa Casa de Vinhedo.
A modernização dos equipamentos hospitalares tem sido um dos pilares dessa gestão. Quais investimentos foram feitos nessa área?
O centro cirúrgico recebeu um aporte de R$ 8 milhões, desde equipamentos para cirurgia, respirador, carrinho de anestesia, vários equipamentos específicos para cirurgia, inclusive neurológica e coronária, estamos buscando a certificação para que possamos ter cirurgias coronárias e também retornar os procedimentos oftalmológicos.
A responsabilidade ambiental e social é um tema crescente. Como a Santa Casa tem trabalhado para se tornar mais sustentável e para gerar impacto positivo na sociedade?
Nós fizemos um plano de contenção de uso de descartáveis. Fazemos uma campanha contínua de economia de água e economia de energia. Quando assumimos, a maioria das lâmpadas ainda era incandescente, aquelas calhas antigas, pegamos uma delas em que o patrimônio era de 1992 e ainda sendo utilizada. Trocamos 80% para LED, o que gerou uma economia de 70% e retomamos a parceria com a CPFL, através das placas solares temos esse retorno de energia sustentável.
Onde a Santa Casa de Vinhedo pretende chegar nos próximos anos? Quais são os objetivos de longo prazo da instituição?
Nós queremos deixar a Santa Casa pronta para o município, independente de quem estiver como provedor, ou quem estiver no poder público, tanto no legislativo quanto no executivo. É preciso dar continuidade a esses projetos, seja de ampliação ou de investimento, porque a medicina avança a cada dia. A Santa Casa, assim como os hospitais de grande porte, tem de acompanhar essa evolução.
Nosso espelho hoje são hospitais particulares de grande porte. A gente tem de sonhar alto e pra isso, um dos pilares que nós estamos trabalhando é ampliar o número de leitos. Hoje nós contamos com 98 e não é o suficiente para atender a cidade e região.
Buscamos essa ideia do anexo hospitalar, também vamos ampliar a questão da UTI, temos 18 vagas, vamos ver se a gente consegue ampliar para mais 100% dessas vagas, chegar a 36 ou 38, estamos com o projeto em andamento.
Temos também a ampliação do pronto socorro, a última foi realizada em 2005 ou seja, há 20 anos, época em que a população era 40 mil habitantes, atualmente estamos em quase 90 mil. Não é só Vinhedo, atendemos, Valinhos, Louveira e região, todas as cidades quase dobraram o número de habitantes e nós continuamos do mesmo tamanho.
Estamos fazendo muito bem-feito, temos uma equipe excelente, com uma dinâmica de fluxo excepcional. Também estamos com um projeto de ampliação da recepção, que histórica, é a mesma de 1962, quando lota, todo mundo fica pra fora. É uma recepção que vai acolher a todos. Estamos aguardando a verba com o deputado Gilberto Nascimento.
Outra obra que estamos finalizando, é a reforma da cozinha. Atualmente fazemos até 400 refeições por dia, vamos ampliar para 1200 refeições, uma cozinha para os próximos 15 anos. Se o hospital crescer com esse anexo, teremos um hospital para 30 anos.
Qual mensagem você gostaria de deixar para a população de Vinhedo e para aqueles que contribuem para o fortalecimento da Santa Casa?
Primeiramente, quero agradecer a Deus por nos dar força, coragem e sabedoria para cumprir essa missão. Que Ele abençoe a todos esses colaboradores, investidores, doadores, empresas, vereadores, o prefeito Dr. Dario, deputados estaduais deputados federais, vocês da imprensa, todos que nos ajudam a elevar o nome da Santa Casa. Nós somos passageiros, a Santa Casa vai ficar pra cuidar do nosso maior patrimônio que é a nossa família. Vai cuidar dos meus filhos, dos meus netos e bisnetos, temos de cuidar desse patrimônio que é o único que nós temos em saúde, que é a Santa Casa de Vinhedo.