
Com a chegada do tempo seco e frio , o vírus da gripe voltou a figurar entre os principais inimigos da saúde pública no Brasil — sobretudo entre os idosos. Segundo o boletim InfoGripe, da Fiocruz, divulgado em maio, o vírus influenza ultrapassou a covid-19 como principal causa de morte por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) entre pessoas com 60 anos ou mais , acendendo um alerta vermelho para familiares, cuidadores e profissionais da saúde.
Mesmo com a oferta gratuita da vacina pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a cobertura vacinal entre os idosos ainda está abaixo da meta de 90% recomendada pelo Ministério da Saúde. Especialistas ressaltam que a imunização é apenas uma das frentes no combate à gripe. A fisioterapia respiratória, os cuidados com a hidratação e a atenção redobrada com sintomas discretos são essenciais para garantir uma recuperação segura e evitar complicações como pneumonia, insuficiência respiratória e até quedas domésticas.
Para entender como proteger esse grupo de risco e como atuar nos casos em que a doença já se instalou, conversamos com três especialistas das áreas de fisioterapia, medicina e enfermagem. A seguir, elas explicam por que o vírus é tão perigoso na terceira idade — e o que pode ser feito para minimizar seus efeitos.
“Influenza compromete a função pulmonar e exige recuperação direcionada”

Entrevista com Alice Lisboa, fisioterapeuta e coordenadora do curso de Fisioterapia da Unimetrocamp Wyden
Qual é o impacto da gripe na saúde pulmonar dos idosos?
A influenza compromete a função pulmonar ao aumentar a produção de secreções e causar inflamação nas vias respiratórias. Isso prejudica a troca gasosa e exige atenção especial em idosos, cujo sistema respiratório já é naturalmente mais comprometido.
Como a fisioterapia respiratória pode ajudar na recuperação?
Ela atua com técnicas como higiene brônquica, reexpansão pulmonar e exercícios respiratórios, que restauram e otimizam a função pulmonar. Além disso, prevenimos complicações como pneumonia, sinusite e insuficiência respiratória.
Por que os idosos são mais vulneráveis?
Eles têm menor elasticidade pulmonar, perda de massa muscular e deficiências nos mecanismos de defesa. Comorbidades como diabetes e doenças cardíacas dificultam ainda mais a recuperação e a resposta imunológica.
Que sinais indicam a necessidade de procurar um fisioterapeuta?
Acúmulo de secreção, falta de ar intensa, histórico de doenças respiratórias ou queda na capacidade pulmonar são sinais importantes. O acompanhamento especializado pode ser decisivo para a recuperação.
“A vacinação ainda é a principal arma contra o vírus”
Entrevista com Silvia Fonseca, médica infectologista e docente do Idomed (Instituto de Educação Médica)
Por que ainda há resistência à vacinação contra a gripe?
Existe uma percepção equivocada de que a gripe é leve. Mas o vírus influenza pode evoluir rapidamente, principalmente em idosos, para quadros graves de insuficiência respiratória e internações.
Como funciona a composição da vacina?
Ela é atualizada anualmente, conforme as cepas que circulam no hemisfério sul. Por isso, é essencial tomar a dose todo ano — sem isso, a proteção simplesmente deixa de existir.
A baixa cobertura vacinal entre os idosos preocupa?
Sim, muito. O índice ainda está abaixo do ideal em várias regiões, inclusive no Sudeste. Isso agrava os casos de SRAG e aumenta o número de óbitos, que são evitáveis com prevenção adequada.
“A gripe no idoso pode evoluir sem febre e causar internações”
Entrevista com Tauana Mattar, professora do curso de Enfermagem da Wyden
Quais sintomas devem chamar a atenção em idosos com gripe?
Nem sempre há febre alta. Muitas vezes, o quadro é silencioso no início, mas pode evoluir para pneumonia, que é uma das maiores causas de internação entre idosos com doenças respiratórias.
Que medidas de prevenção devem ser reforçadas no inverno?
Lavar bem as mãos, usar álcool em gel, manter ambientes ventilados e evitar contato com pessoas gripadas são práticas básicas. Também é importante manter uma boa alimentação e hidratação.
Quais cuidados domiciliares ajudam a evitar complicações?
Estimular a ingestão de líquidos, realizar exercícios respiratórios orientados, evitar aglomerações e ficar atento a qualquer sinal de agravamento, como falta de ar ou confusão mental.