Cenipa divulga relatório preliminar sobre queda de avião em Vinhedo

Tripulação relatou falha no sistema de gelo momentos antes do acidente

Residencial Recanto Florido, em Vinhedo, teve sua rotina alterada após queda de avião
Foto: Foto: Pedro Lopes
Residencial Recanto Florido, em Vinhedo, teve sua rotina alterada após queda de avião

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos ( Cenipa ) divulgou, na sexta-feira, 6 de setembro, um relatório preliminar detalhando a sequência de eventos que culminaram na queda do avião da VoePass , desde a decolagem em Cascavel, no Paraná, até o acidente em Vinhedo , no interior de São Paulo. O brigadeiro Marcelo Moreno, chefe do Cenipa, informou que a investigação ainda está em andamento, e que estão sendo analisados os fatores humanos, materiais e técnicos que possam ter contribuído para o acidente.

A tragédia aconteceu em 9 de agosto e vitimou 62 pessoas, sendo quatro tripulantes e 58 passageiros. A formação de gelo nas asas é uma das hipóteses levantadas para explicar a queda. O relatório concluiu o ATR-72 estava em condições de navegabilidade e operando dentro dos padrões estabelecidos pela Força Aérea Brasileira (FAB), estando apto a voar em condições de gelo, assim como os pilotos eram qualificados para enfrentar esse tipo de situação. As informações meteorológicas relevantes, incluindo a presença de gelo no trajeto, estavam disponíveis para a tripulação, e durante o voo, os tripulantes mencionaram uma falha no sistema de degelo da aeronave.

Uma cronologia detalhada do acidente, desde a decolagem do ATR-72 no Aeroporto de Cascavel, no Paraná, até a queda em um condomínio em Vinhedo, no Estado de São Paulo, também foi apresentada durante a coletiva. Antes de ser apresentado para a imprensa, o relatório foi discutido com os familiares das vítimas em Brasília. O objetivo desse relatório parcial é oferecer uma visão geral do acidente sem apontar culpados.


Cerca de 15 minutos depois da decolagem, foram ativados os primeiros sistemas de prevenção de formação de gelo, incluindo os aquecedores nas asas, janelas do cockpit, hélices e entrada de ar do motor.

Às 12h14, o sistema responsável por detectar a presença de gelo nas superfícies foi acionado na cabine. O sistema de degelo foi ativado, mas a tripulação observou uma mensagem de erro e desligou o sistema. O alerta de gelo apagou cerca de um minuto depois, e o sensor responsável por detectar a formação de gelo ativou e desativou por mais três vezes no intervalo de quase uma hora.

Às 13h17, o sistema de degelo foi ativado novamente. Um minuto depois, foi acionado um outro alerta que indicava que a aeronave estava voando a uma velocidade aproximadamente 10 nós abaixo da ideal.

Dois minutos antes da queda, a tripulação solicitou ao controle de tráfego aéreo permissão para pousar, mas o pedido foi negado devido a outra aeronave estar na mesma rota. A tripulação então informou que manteria a altitude e aguardaria autorização. Logo após, um outro alerta foi acionado, desta vez sinalizando que a aeronave estava voando com uma velocidade de 15 a 20 nós abaixo da ideal.

Após a comunicação externa e o soar dos alarmes, o copiloto comentou: "bastante gelo", e o sistema de degelo foi ativado pela terceira vez. Pouco depois, a aeronave recebeu autorização para iniciar o procedimento de pouso. Às 13h21, durante uma curva para a posição SANPA, o piloto perdeu potência. Nesse momento, o alerta de stol foi acionado. A aeronave entrou em uma rotação de parafuso plano, completando cinco voltas antes de colidir com o solo.

Manutenção e Certificação

A aeronave, fabricada em 2010 e em operação desde setembro de 2022, estava devidamente certificada para voos em condições de gelo. Os registros de manutenção estavam em dia e a tripulação tinha treinamento específico para operar o avião em tais condições.

O relatório não aponta as causas definitivas do acidente e a investigação continua focada em fatores humanos e técnicos. A previsão é de que o relatório final fique pronto em um prazo de até um ano e tem como objetivo identificar os fatores que contribuíram para o acidente e emitir recomendações para evitar futuros incidentes.

Nota oficial da VoePass após relatório preliminar:

"O relatório preliminar divulgado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) confirma que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. Reforça também, como o relatório aponta, que ambos os pilotos estavam aptos para realizar o voo, com todas as certificações de pilotagem válidas e treinamentos atualizados. Cabe lembrar que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do CENIPA poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido."